TOY STORY 3

(idem – EUA – 2010)

Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Michael Arndt
Elenco (vozes): Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Michael Keaton, Wallace Shawn, Timothy Dalton, Whoopi Goldberg, R. Lee Ermey.

É impossível falar de Toy Story sem falar da história da Pixar. Sendo o primeiro longa-metragem da empresa de animação, a turma do cowboy Wood definiu uma época ao mostrar ao mundo um estilo de animação completamente novo, contando com uma história de amizade de maneira despretensiosa e divertida. Vou parar por aqui porque acho que continuar falando da Pixar seria chover no molhado, afinal é bastante improvável que alguém que viveu na última década não conheça o trabalho da empresa. Sendo assim, vou me focar em outro aspecto que venho notando nos filmes da Pixar: a sua carga emocional.

No início de sua carreira cinematográfica, a Pixar focava-se em contar (boas) histórias, estreladas por insetos (Vida de Inseto), brinquedos (Toy Story 2) e monstros (Monstros SA) bonitinhos. Apesar de esses filmes apresentarem uma leve carga dramática, isso não se compara ao que viria a seguir. Confesso que fiquei assustado ao assistir pela primeira vez a Os Incríveis e ver uma mãe falando para os filhos: “Eles (os vilões) não vão pegar leve com vocês só porque vocês são crianças. Eles vão matá-los se tiverem a chance. Não dêem essa chance a eles”. Desde então, a cada novo filme, a dramaticidade aumentava fazendo desses “desenhos” retratos adultos de histórias de amor (Wall-E) e perda (Up).

Não pense, porém, que Toy Story 3 é um drama pesado, não indicado para crianças. Não é nada disso. A série continua divertida e atrativa para todas as idades, contando com personagens carismáticos – o porco cofre ainda é o meu preferido, com seu humor áspero e sarcástico – e piadas inteligentes, como o boneco Ken que fica nervoso ao ser chamado de brinquedo de menina. Além disso, o longa de Lee Unkrich – que co-dirigiu o segundo capítulo da série – ainda acerta ao criar um clima de constante nostalgia durante a projeção, algo notável desde a cena inicial que mostra a imaginação infantil durante as brincadeiras.

Porém tal imaginação infantil desaparece a medida que o pequeno Andy cresce, deixando de lado seus fiéis amigos de infância, que agora, relegados a um baú escuro, tentam diferentes maneiras (sem sucesso) de chamar a atenção do dono. Chega então a temida hora do agora jovem Andy, prestes a partir para a faculdade, decidir qual será o destino de seus queridos brinquedos. Não preparado para dizer adeus, Andy resolve guardá-los no sótão, entretanto, um equívoco faz com que eles vão parar na creche Sunnyside. O que a principio parecia um paraíso para os brinquedos sem dono, acaba revelando-se algo completamente diferente. É então que os “amigos” de Andy precisam arrumar um jeito de retornar ao seu dono. Tal tarefa, contudo, não será tão simples quanto aparenta.

Tendo feito parte da geração que cresceu assistindo Toy Story, eu não consigo deixar de sentir um gosto de nostalgia ao assistir ao capítulo mais recente da série. É como se o filme tivesse sido feito para a minha geração já que, assim como Andy, nós também crescemos, e é chegada a hora de dizer adeus aos acessórios infantis e encarar a vida adulta. Nesse caso, o longa se torna uma ótima desculpa para retornarmos a esse mundo, nem que seja para brincar uma última vez, antes de encararmos a vida adulta.

Talentoso ao saber dosar a emoção, sem cair no melodrama, o diretor Lee Unkrich cria algumas das seqüências mais emocionantes que eu já nos últimos anos, com destaque para o flashback mostrando o passado de um dos personagens, em que gotas na janela se transformam em lágrimas no rosto do brinquedo; ou então o angustiante e arrepiante clímax, demonstrando mais uma vez a capacidade da Pixar de fazer filmes adultos.

Toy Story 3 repete o feito alcançado por Up no ano passado e passa a ser a segunda animação a ser indicada simultaneamente ao Oscar de Melhor Animação e Melhor Filme. E é bastante provável que, no dia 27 de fevereiro, Toy Story saia do Teatro Kodak carregando pelo menos uma estatueta. Um merecido reconhecimento para um ótimo filme.

Nota: por Daniel Medeiros