OS AGENTES DO DESTINO

(The Adjustmen Bureau – 2011 – EUA)
Direção: George Nolfi
Roteiro: George Nolfi, baseado no conto de Philip K. Dick
Elenco: Matt Damon, Emily Blunt, Anthony Mackie, John Slattery, Michael Kelly, Terence Stamp.

Um filme que misture temas tão dispersos como religião, romance e ficção científica, já cria, no mínimo, um sentimento de curiosidade no espectador mais atento. Ainda mais se o longa em questão seja uma adaptação de um conto de Philip K. Dick, o mesmo que escreveu os textos que deram origem a clássicos como Blade Runner, O Vingador do Futuro e O Homem Duplo. Porém, é possível que a junção de tantos elementos tenha criado uma expectativa muito grande (pelo menos da minha parte) em relação a Os Agentes do Destino, mais nova adaptação de Dick a chegar às telas. Expectativa essa que, infelizmente, não é concretizada ao final da projeção.

Na trama, alguns meses depois de perder a eleição para o senado, o congressista David Norris (Matt Damon) reencontra Elise Sellas (Emily Blunt), mulher com quem teve um encontro casual na noite da eleição e que nunca mais havia tido contato. Poucos momentos juntos são suficientes para provar que eles foram feitos um para o outro. O problema é que a união dos dois não estava nos planos dos tais Agentes do Destino, pessoas encarregadas de manter o mundo seguindo um rumo pré-determinado. É então que David, após acidentalmente ver os agentes em ação, é aconselhado a deixá-la, ou o futuro dos dois estaria condenado. Entretanto, o jovem político não está pronto para esquecer a garota, e decide então lutar para conseguir a chance de mudar o seu destino.

Mostrando os agentes como subordinados de um ser maior e onipresente, aquele que escreve os caminhos que os outros devem trilhar, é impossível não analisar o filme em termos de religião. Seguindo essa linha de raciocínio, o “presidente” – como é chamado – pode facilmente ser interpretado como sendo Deus, enquanto os agentes do destino seriam os anjos – aqueles que seguem desígnios de Deus, fazendo com que tudo siga como planejado. Essa teoria ganha força se percebermos que os próprios agentes admitem já terem sido chamados de anjos; e de que toda vez que os mesmos se referem ao presidente, eles olham para céu.

Sendo assim, é uma decisão acertada do diretor George Nolfi investir em grandes planos gerais, exemplificando o quanto as pessoas são pequenas em relação ao grande plano do “presidente”. Além disso, a planificação também funciona por explorar melhor a ótima direção de arte, feita por Kevin Thompson (Mais Estranho que a Ficção), que destaca-se ao criar ambientes grandiosos ora impecavelmente organizados (o prédio onde os agentes trabalham), e ora completamente vazios (como o galpão aonde Norris é levado para o seu interrogatório).

O problema é que Nolfi, fazendo aqui sua estréia na direção, revela-se bastante irregular e desconfortável na função. Ao mesmo tempo em que ele acerta ao utilizar a mise en scène de maneira correta – apresentando David Norris inicialmente sozinho em quadro (retratando a solidão do personagem) para depois, abusar de planos conjuntos nas cenas em que ele e Elise estão juntos – o diretor peca ao não explorar o ótimo elenco que tinha em mãos. Mostrando-se um péssimo diretor de atores (ele conseguiu deixar John Slattery, o ator mais carismático da série Mad Men, completamente sem graça), George até consegue criar uma boa química entre o casal principal, porém quando estão separados, os dois não funcionam tão bem. Isso se torna um problema quando o roteiro insiste mantê-los afastados na maioria o tempo.

E é no roteiro que Nolfi comete os seus maiores equívocos. Tendo escrito o texto de sucessos como O Ultimato Bourne e Doze Homens e Outro Segredo, é no mínimo estranho que Nolfi não saiba estruturar o seu filme em atos definidos, dando um ritmo irregular à narrativa e culminando em uma inexplicável (e brega) narração em off, recurso que até então não havia sido usado.

Os Agentes do Destino tinha potencial para tornar-se um clássico, mas para isso precisava de um realizador criativo o bastante para tornar o projeto memorável, e não apenas funcional. Ainda que não figure entre as melhores adaptações de autor, o longa se mostra muito melhor do que fracassos recentes como O Vidente e O Pagamento, o que, por si só, já vale o ingresso.



Nota: (Bom) por Daniel Medeiros



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