PAIS DO DESEJO

(Idem – 2011 – Brasil)

Direção: Paulo Caldas
Roteiro: Paulo Caldas, Pedro Severien e Amin Steppler
Elenco: Fábio Assunção, Maria Padilha, Gabriel Braga Nunes, Germano Haiut.
Ao pesquisar a biografia do diretor Paulo Caldas, após assistir ao seu País do Desejo, confesso que fiquei surpreso ao perceber a extensa carreira dele como cineasta (ele já comandou 5 curtas e 3 outros longas). Digo isso porque, apesar de conhecer um pouco de sua filmografia – como Baile Perfumado e Deserto Feliz –, me vi obrigado a fazer tal pesquisa ao perceber que o filme que havia assistido exalava elementos televisivos durante todos os momentos de sua projeção. E quando falo em TV, não me refiro às boas produções recentes feitas para o formato, mas sim àqueles clichês mais batidos e situações que não funcionam de maneira alguma na tela grande.
Dos diálogos forçados e auto-explicativos às atuações extremamente globais, Caldas parece não se importar em entregar ao público um produto raso e vazio. Na trama, uma pianista (Maria Padilha) sofre com um órgão transplantado que foi rejeitado pelo corpo, enquanto um padre (Fábio Assunção) enfrenta represálias da igreja devido à sua postura liberal, apoiando a execução de um aborto em uma menina que foi estuprada pelo tio. Todas essas discussões (interessantes por sinal) são deixadas de lado no momento os dois se encontram e a sentir uma proibida atração um pelo outro.
E se o romance já não fosse clichê o suficiente, em muitos momentos o absurdo roteiro – escrito pelo diretor, em parceria com Pedro Severien e Amin Steppler – ainda peca na tentativa de criar frases de efeito (“o perigo não está no amor, está na falta dele”), e em abandonar qualquer tipo decente de estrutura: o arcebispo expulsa o padre da igreja após uma frase de diálogo. E se isso não fosse suficiente, ainda temos aquela clássica cena de qualquer novela das 8 em que a família inteira se reúne na mesa de jantar para uma farta refeição aonde conversam sobre todos os assunto, concordando com tudo e um complementando o que o outro fala. Pra completar, o texto ainda apresenta subtramas e personagens que não servem para absolutamente nada, como a mãe doente e a sua nova e sexy enfermeira.
Atrás das câmeras, o cineasta limita-se a criar o também clássico: Plano Geral, Plano Médio e Primeiro Plano em praticamente todas as cenas de diálogos. Já nas cenas que necessitam de um pouco mais de planejamento, ele decepciona novamente: reparem como na cena em que Roberta (Padilha) desmaia no palco, Caldas não consegue nem criar tensão, muito menos surpresa, mostrando esse importante caso como algo banal. E pra fechar, o diretor ainda investe em longos planos que mostram os atores dirigindo ou atravessando longos corredores, planos esse que tem a única função narrativa de situar o espectador – o que demonstra a falta de confiança de ele tem no seu público, já que pensa que, se vemos o Padre José (Assunção) no hospital, não seríamos capazes de deduzir sozinhos que ele dirigiu até ali.
Se fosse feito para a TV, na década de 80, País do Desejo se encaixaria perfeitamente no estilo de produção da época – inclusive, as “polêmicas” abordadas teriam mais validade naquele contexto histórico. Mas as coisas mudam, e a linguagens evoluem. Cabe aos cineastas acompanharem essa evolução, ou tornarem-se obsoletos. Fica a dica.

Nota:(Ruim) por Daniel Medeiros


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