EL CASAMIENTO

(idem – 2011 – Uruguai)

Direção: Aldo Garay
Roteiro: Aldo Garay
Elenco: Julia Brian, González Ignácio.
Quando escrevi sobre o filme As Hiper Mulheres – que assisti no 39º Festival de Cinema de Gramado –, critiquei o documentário de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro por tentar passar, durante toda a projeção, uma falsa idéia de realidade, que em nenhum momento soava convincente. Esse “equívoco” narrativo (ainda que não tenha influenciado o resultado final naquele caso) é exatamente o que o diretor Aldo Garay evita em sua concepção de El Casamiento, longa uruguaio que mostra a história de amor entre um ex-pedreiro e uma transexual que, depois de muitos anos juntos, resolvem se casar.
Logo no inicio da projeção, Garay informa que a história do casal Julia Brian e González Ignacio sempre o fascinou. Tanto que, na década de 90, ele havia iniciado um documentário sobre os dois; porém, devido a problemas de produção e o surgimento de outros trabalhos, não o pode concretizar. A idéia de voltar a esse tema surgiu quando ele recebeu um telefonema sendo convidado para ser padrinho no casório.
Mesclando imagens atuais com o material de arquivo captado na época, o cineasta acerta ao não fazer de seu longa um preparativo para o grande evento do título (algo que também aconteceu em As Hiper Mulheres). E se existem as tentativas de falsear a realidade, elas servem apenas para reforçar o sentimento daquelas pessoas, e, além de nunca interferirem na narrativa, acabam se tornando um retrato mais do que sincero da união do casal – algo que pode ser ilustrado pela bela cena em que González puxa Julia para dançar no meio da cozinha.
Outro acerto do diretor foi não focar seu trabalho no fato de Julia ser uma transexual. Ainda que o assunto surja uma vez ou outra, isso nunca é o centro da narrativa. A transexualidade de Julia serve apenas para ilustrar a força do amor dos dois, visto que supera qualquer barreira de preconceito (até mesmo do próprio González). E, ainda que isso nunca fique claro, esse também pode ser o motivo do isolamento do casal, que, além de não poder ter filhos, nunca mencionam família ou amigos.
Mantendo uma linha “clássica” de documentário – mencionada no outro texto – Garay aproveita principalmente os momentos em que o casal está separado para mostrar a força de sua relação. É impossível não se emocionar com a preocupação que Ignácio demonstra enquanto sua noiva está no hospital, devido ao seu problema de poliquitose renal. O medo de perder sua amada, e idéia de solidão, assombra o pobre velhinho, enchendo de lágrimas não só os seus olhos, como os de toda a platéia.
Auxiliado pela simpatia dos seus protagonistas e pela naturalidade com que agem em frente à câmera (sem parecer forçado ou ensaiado), El Casamiento é um ótimo exemplo de um documentário abordando temas polêmicos de maneira madura e não sensacionalista. É também, acima de tudo, uma simples e bela história de amor.


Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros


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