CRÍTICA: MISSÃO: IMPOSSÍVEL – PROCOLO FANTASMA

A franquia cinematográfica Missão: Impossível, iniciada em 1996 com o longa dirigido por Brian DePalma, abandonou o estilo de espionagem calculista já a partir do seu segundo capítulo – comandado por John Woo – para se entregar ao gênero de ação desenfreada. O sucesso comercial do terceiro filme – de J.J. Abrams – provou que a mudança foi bem sucedida, mas não o suficiente para manter a série ativa. Longe dos cinemas por 5 anos, M:I volta agora para tomar um novo fôlego e tentar se restabelecer.

A trama dessa vez envolve o roubo de códigos de lançamento de mísseis nucleares por terroristas russos. É então que o agente Ethan Hunt (Cruise) é resgatado de uma prisão russa, onde estava sendo mantido por motivos desconhecidos, para auxiliar a equipe da IMF – composta por Benji Dunn (Simon Pegg) e Jane Carter (Paula Patton) – na recuperação desses códigos. Porém, como era de se esperar, nada sai exatamente como previsto e o governo acaba decretando o “Protocolo Fantasma” – automático dissolvimento da agência – o que faz com que nossos heróis precisem agir sozinhos para salvar o mundo.
Reza a lenda que esse seria o último capítulo estrelado pelo astro Tom Cruise, e que Jeremy Renner, apresentado nesse filme, assumiria seu manto. Ainda que seja pouco provável que isso de fato aconteça – já que Renner está comprometido com o novo Bourne, outra franquia de espionagem, e ele mesmo negou o boato em entrevista recente – é possível afirmar uma coisa: Ethan Hunt está velho. Aqui o destemido herói apanha, cai, se machuca, tem medo de altura e toma decisões erradas. Isso sem falar que o rosto e sorriso de Cruise estão comprometidos pelas rugas que aparecem timidamente no seu rosto.
Nessa busca por renovação, uma escolha mais do que acertada foi trazer Brad BirdO Gigante de Ferro e Os Incríveis – para o cinema de live action. Além de um talentosíssimo cineasta, Bird trouxe uma qualidade pouco utilizada nos longas de espionagem atuais: a falta de realismo. Para o diretor, as leis da física não precisam ser obedecidas, o que faz com que pular do prédio mais alto do mundo vire algo comum. Além do mais, as gadgets aqui são muito mais interessantes (a cena do corredor é incrível) e o senso de humor está presente durante toda a projeção – e não só pelo personagem de Simon Pegg.
O problema é que o roteiro – escrito por Josh Appelbaum e André Nemec, do seriado Alias – tenta, em alguns momentos, inserir uma carga emotiva que não cabe nesse filme; o que faz com que o drama seja pouco explorado e se entregue a soluções equivocadas: como mostrar um personagem falando da admiração que tem pelo agente Hunt pouco antes de morrer – algo que funcionaria melhor caso o ator fosse um veterano da série e não alguém que acabou de chegar (não vou dizer quem é para não estragar nenhuma surpresa). Mesmo as subtramas, como o segredo de Brandt (Renner), não soam convincentes e, por sorte, Bird opta por não investir muito nisso.
Porém o grande defeito de Missão: Impossível – Protocolo Fantasma encontra-se na ausência de um vilão. Sem querer questionar o talento de Michael Nyqvist, que fez um excelente trabalho na adaptação sueca de Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009), mas é inegável que o ator não tem a presença e nem o carisma de Philip Seymour Hoffman – até hoje o melhor vilão da série. O Nyqvist fica então reduzido a um papel de coadjuvante não convincente, preso em motivações clichês envolvendo radicais russos querendo trazer de volta a guerra fria.
Nada disso, entretanto, importa em MI4. Aqui o que é importa é a diversão. Entretenimento, puro e simples. E é aí que reside a maior qualidade da franquia, e desse capítulo em específico. Com cenas de ação absurdas e bem coreografadas, bons efeitos e sem perder o ritmo, Protocolo Fantasma não promete muito, mas cumpre tudo o que propõe.
(Mission: Impossible – Ghost Protocol – EUA/Emirados Árabes – 2011)
Direção: Brad Bird
Roteiro: Josh Appelbaum e André Nemec
Elenco: Tom Cruise, Jeremy Renner, Simon Pegg, Paula Patton, Michael Nyqvist, Vladimir Mashkov, Samuli Edelmann, Anil Kapoor, Léa Seydoux, Josh Holloway e Miraj Grbic

Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros