JOGOS VORAZES – Crítica

A adaptação do livro homônimo de Suzanne Collins para os cinemas tinha grandes chances de não dar certo. O primeiro capítulo da trilogia Jogos Vorazes, que foi inicialmente vendido como o “novo Crepúsculo”, não inspirava muita confiança. As primeiras fotos e vídeos divulgados mostravam figurinos estranhos e maquiagens toscas, algo que fazia com que a comparação com Crepúsculo fosse mais do que válida. Porém, as semelhanças com as aventuras de Bella, Edward e Jacob, felizmente, terminam por aí.

A trama mostra um mundo pós-apocalíptico que se dividiu em 12 colônias. Cada colônia desenvolve uma tarefa específica (mineração, usinas elétricas, etc.) e todo o lucro gerado é revertido para a capital, que esbanja construções grandiosas, conforto e fartura. Visando evitar novos conflitos e rebeldias, a capital utiliza o entretenimento como forma de controle das massas: todo ano as colônias elegem dois candidatos (um homem e uma mulher) para participar de uma violenta competição até a morte, onde, dentre os 24 participantes, apenas 1 sobrevive.


Quando chega o temido dia da “colheita” dos candidatos, a jovem Katniss Everdeen vê sua irmã mais nova ser escolhida e não tem alternativa senão assumir o lugar dela. Do lado masculino, Peeta Mellark, um humilde ajudante de padeiro, é o selecionado. Juntos, os dois passam por um longo processo que envolve fazer boas apresentações, vestir-se bem e portar-se corretamente; tudo para impressionar os patrocinadores do evento e assim ganhar vantagem quando a competição de fato começar. O contato deles é Haymitch Abernathy, um antigo vencedor do torneio que, provavelmente traumatizado pela violência que presenciou, se tornou um beberrão inveterado. Abernathy passa a dar dicas para os dois representantes do distrito 12 aumentarem suas chances de sobrevivência em meio à batalha.


Tomando o tempo necessário para apresentar todo aquele universo, o roteiro – escrito pela própria Collins, em parceria com o diretor Gary Ross (A Vida em Preto e Branco) e com Billy Ray (Intrigas do Estado) – opta por manter quase toda a ação nos olhos da protagonista. Tal escolha auxilia na ideia de solidão da personagem, mas acaba limitando um pouco a narrativa, já que muito do que acontece na história ela não vê – o que faz com que o público acabe perdendo a conta de quem está vivo e quem está morto.


Diferente do excelente Battle Royale, filme japonês que mostra um grupo de colegiais isolados em uma ilha e lutando até que sobre apenas um; a idéia de Jogos Vorazes não é mostrar apenas os jovens se matando, mas sim fazer uma crítica à sociedade consumista e a manipulação por parte da mídia. Tanto é que durante mais de uma hora de projeção tudo o que vemos são os candidatos (produtos) serem preparados para o consumo da audiência. E quando a batalha de fato começa, o longa ainda faz questão de mostrar como os realizadores interferem naquele “programa” para que ele tenha o resultado esperado.


E se de fato os figurinos coloridos e maquiagens ruins continuam lá, eles acabam servindo – juntamente com a linguagem quase documental (com câmera na mão e cortes secos) adotada pelo diretor – como forma de contraste entre a capital recheada de cores e as colônias acinzentadas e sem vida. Em meio a essas excentricidades, Jogos Vorazes revela-se um filme sério, adulto e muito bem realizado. Tudo que a saga Crepúsculo nunca foi.

(The Hunger Games – EUA – 2012 – 142min)
Direção: Gary Ross
Roteiro: Gary Ross, Billy Ray e Suzanne Collins, baseado no livro de Suzanne Collins
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Stanley Tucci, Wes Bentley, Willow Shields, Liam Hemsworth, Elizabeth Banks, Woody Harrelson, Toby Jones, Lenny Kravitz, Donald Sutherland.

Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros