Crítica – O Legado Bourne

A trilogia Bourne ficou famosa por apresentar uma nova roupagem aos filmes de espionagem, criando uma abordagem mais crua e realista em relação à imagem do agente secreto – algo que, inclusive, foi adaptado para a famosa franquia de James Bond em Cassino Royale. E Tony Gilroy seria a pessoa ideal para comandar esse novo capítulo.

Principal nome por trás dos roteiros dos três longas anteriores e responsável pela direção do excelente Conduta de Risco, o diretor tinha ainda a seu favor o fato do astro em ascensão Jeremy Renner ter aceitado a tarefa de substituir Matt Damon como o herói da história. É difícil entender, então, como um projeto que tinha grandes chances de funcionar consegue ser tão mal-sucedido em suas intenções, não respeitando, inclusive, o material original no qual se baseia.

Gilroy parece perdido em meio ao universo que ele mesmo concebeu, baseando toda a sua narrativa em um conceito que ele mesmo já havia abandonado: os comprimidos que os agentes tomam para suas dores de cabeça. Nessa nova roupagem essas drogas (que foram apenas mencionadas por Clive Owen em A Identidade Bourne) alteram geneticamente os espiões que as usam, criando uma espécie de “super-agentes” – algo é contrário à proposta realista mencionada antes.

E é a busca por mais comprimidos o que move Aaron Cross (Renner), que, após quase ser morto pela própria agência que servia – depois que os atos de Jason Bourne e Pamela Landy acarretaram a necessidade de um protocolo emergência –, parte em busca de outra sobrevivente, a Dr. Marta Shearing (Rachel Weisz), quem ministrava a droga de Cross. Por trás de tudo isso, Eric Byer (Edward Norton) comanda a operação de captura dos fugitivos.

Com um estilo de direção menos frenético (e menos interessante) do que o visto nos dois últimos filmes, Gilroy até constrói algumas boas sequências – como a cena do personagem escalando a casa de Shearing –, mas não consegue manter o ritmo (e a atenção do espectador) durante os longos 135 minutos de projeção. Além disso, o roteiro – escrito por ele em parceria com seu irmão Dan – não apresenta narrativa concisa, investindo em fashbacks sem qualquer função e tentando a todo custo interligar esse longa com a trilogia original – o que acaba contradizendo alguns fatos mostrados anteriormente, como o destino dos personagens de David Strathairn e Albert Finney.

Dentre tantos defeitos, o ponto alto de O Legado Bourne com certeza é Jeremy Renner. O carismático ator consegue não só fugir da sombra de Matt Damon como ainda dá um pouco de densidade ao seu personagem (o máximo que o roteiro capenga permite). Mas isso acaba não sendo suficiente para salvar o filme que, por si só, já é bem fraco, e se comparado ao restante da franquia, é pior ainda.

(The Bourne Legacy – Ação – EUA – 135min.)
Direção: Tony Gilroy
Roteiro: Tony Gilroy e Dan Gilroy
Elenco: Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Stacy Keach, Scott Glenn, Donna Murphy.

Nota:(Regular) por Daniel Medeiros