Crítica – Ted

De certa maneira, a comédia Ted, escrita e dirigida por Seth MacFarlane (criador dos seriados Uma Família da Pesada, American Dad! e The Cleveland Show), pode ser considerada um conto de fadas realista. Na trama, um menino solitário deseja, na noite de natal, que seu ursinho de pelúcia ganhe vida para que assim ele possa ter um amigo. O desejo se realiza e os dois vivem felizes para sempre. Ou assim seria, caso o realismo anteriormente mencionado não imperasse na narrativa.


Em meio à fama de ser o único brinquedo vivo, Ted (com voz do próprio MacFarlane) não demora muito para se envolver em escândalos típicos de sub-celebridades esquecidas. Tendo o amigo de pelúcia como modelo a ser seguido, o menino cresce (e se torna Mark Walberg), mas a presença de Ted em sua vida impede que ele amadureça, o que pode custar o relacionamento com sua namorada, Lori (Mila Kunis).

É chegada então a difícil hora de se despedir do amigo de infância e seguir em frente.

Com uma estrutura que se apoia na inserção de diversas esquetes, o roteiro – escrito por MacFarlane em parceria com Alec Sulkin e Wellesley Wild (todos de Uma Família da Pesada) – consegue manter o humor constante, porém acaba sacrificando um pouco da narrativa ao inserir conteúdos desnecessários apenas para fazer rir. Toda a sub-trama envolvendo o chefe de Lori (Joel McHale) é completamente dispensável, assim como a participação de Norah Jones, que funcionaria melhor se a cantora fosse apenas mais uma das diversas celebridades que passeiam pela tela sem dizer uma palavra. Além disso, todos os personagens coadjuvantes são mostrados de maneira bidimensional, sem qualquer profundidade.


Entretanto, o cineasta compensa os seus equívocos ao desenvolver bem o trio principal e a maneira como se relacionam, tornando uma temática fantástica bastante (de novo) realista. Vale destacar também o uso de flashbacks (característico da TV) que, além de engraçadíssimos (como a cena envolvendo a limpeza no tapete da sala), trazem informações importantes sobre os personagens: quando o casal relembra como se conheceram, é possível distinguir a visão que cada um tem do mundo (ela é séria, enquanto ele enxerga as coisas de uma maneira fantasiosa).

MacFarlane mantém o humor típico de seus trabalhos anteriores, com referencias à cultura pop (fãs de Flash Gordon vão adorar) e piadas sem o menor pudor, que vão desde religião (“Olhem o que Jesus fez!”) até Brandon Routh (isso mesmo, o protagonista de Superman – O Retorno). Arrancando gargalhadas do público, o diretor entrega aqui é um ótimo exemplo de comédia irreverente, divertida e, principalmente, politicamente incorreta – algo cada vez mais raro no cinema contemporâneo. Que venham outros.

(idem – EUA – 2012 – Comédia – 106 min.)
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild
Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Joel McHale, Giovanni Ribisi, Norah Jones, Patrick Stewart.

Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros



Atenção, o trailer abaixo é proibido para menores de 18 anos.