Crítica | O Sono da Morte

O cineasta americano Mike Flanagan tem como uma das principais características da sua curta – e ótima – filmografia a criação de personagens extremamente inteligentes e racionais. E por mais que isso seja algo louvável, também traz uma consequência lógica: falta emoção em seus filmes. Em O Sono da Morte, seu mais recente trabalho, esse embate entre razão e emoção se mostra mais forte do que nos demais exemplares, e ainda que no final a razão acabe predominando – como de costume –, é justamente o “excesso” de emoção que acaba prejudicando o resultado.


Escrito pelo própria diretor em parceria com Jeff Howard (com quem já havia trabalhado antes em O Espelho), o roteiro acompanha o casal Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane), que perdeu seu filho pequeno em um acidente doméstico. Lidando com o luto, eles resolvem adotar uma criança, o misterioso Cody (Jacob Tremblay), que já passou por diversos pais adotivos. E não demora muito para que eles percebam o motivo: enquanto Cody está dormindo, seus sonhos se manifestam fisicamente. Ou seja, os sonhos do garoto se transformam em realidade… e os pesadelos também.

A racionalidade dos personagens já é percebida na primeira aparição fantástica que eles presenciam. Ao contrário da grande maioria das produções de terror, eles tratam o evento sobrenatural de maneira lógica e nunca duvidam daquilo que viram. E por mais que os psicólogos tentem relacionar as estranhas aparições ao trauma sofrido pelo casal, Jessie enxerga aquilo como uma oportunidade de rever seu filho morto. A frieza da protagonista é tanta que ela manipula Cody, chegando ao ponto de drogá-lo para que ele durma mais rápido, e mais profundamente.
Já do lado da emoção, Flanagan investe pesado no desenvolvimento dos personagens e na situação na qual se encontram, e em grande parte do tempo ele é bem sucedido. Porém, o realizador peca ao não conseguir dosar o tom entre o suspense e o drama, o racional e o emocional. Assim, em alguns momentos do filme sua mão ele pesa para um lado – como no seu melodramático clímax – e em outros ela pesa demais para o outro lado – como na impassividade com que Jessie encara uma nova tragédia em sua vida –, sem nunca encontrar um equilíbrio.

Além disso, a narrativa ainda é prejudicada por uma conclusão apressada e excessivamente expositiva. Mas, apesar dos problemas, o diretor acerta ao estabelecer um clima de constante tensão e consegue entregar alguns bons sustos – mas sem exagerar. Ao final, O Sono da Morte pode até ser apenas mediano, mas é mediano para os padrões de Mike Flanagan, o que pode ser visto como um elogio.

Título original: Before I Wake
Ano: 2016
Gênero: Terror
Direção: Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan e Jeff Howard
Elenco: Kate Bosworth, Thomas Jane, Jacob Tremblay, Annabeth Gish, Scottie Thompson, Dash Mihok, Jay Karnes, Kyla Deaver, Lance E. Nichols, Avis-Marie Barnes, Courtney Bell e Hunter Wenzel.