Crítica | Liga da Justiça

União dos maiores heróis da DC Comics até diverte, mas não empolga. 

Ao final da sessão em que eu assisti a Liga da Justiça, quando começou uma cena que se passa durante os créditos, alguém na plateia falou num tom de indignação: “tá virando a Marvel agora?”. Isso me chamou atenção, não porque o sujeito esteja errado nesse argumento; ele não está, mas porque as evidências para tal afirmação já estavam presentes ao longo de toda a projeção, e não apenas naquela cena. E essa comparação não é nem uma qualidade e nem um defeito, mas a constatação de fato que, por sua vez, carrega a sua parcela de qualidades e de defeitos: o tom do filme torna-se mais leve e divertido, porém a tentativa de inserir-se dentro de uma cronologia muito maior prejudica a narrativa e resulta em uma obra agradável, mas esquecível.
Escrito por Chris Terrio e Joss Whedon, o roteiro se passa após os eventos de Batman vs Superman – A Origem da Justiça. Com a morte do Superman, os monstros parecem ter mais liberdade para saírem nas ruas, e o Batman (Ben Affleck) se mantém ocupado caçando-os. Prevendo uma enorme ameaça que se aproxima, o homem-morcego vai atrás de outras pessoas que possam auxiliá-lo na iminente batalha. E aí já começam os problemas de roteiro, pois existe a necessidade de reapresentar cada um desses heróis, muitas vezes mostrando-os em ação, e ainda colocar alguma referência a outros filmes – como é o caso da visita do Aquaman (Jason Momoa) a Atlantis. E é só depois de todas essas introduções que conhecemos o vilão dessa história, o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), e seu objetivo: juntar as três Caixas Maternas, objetos de extremo poder que estavam escondidos na Terra há milhares de anos, e usar esse poder para destruir o planeta.
E mesmo depois de tudo isso, a narrativa é arrastada para trás para que se possa resolver a questão da morte do Superman (e não, isso não é um spoiler, afinal o personagem consta nas artes promocionais). Os tropeços e as barrigas do roteiro prejudicam, e muito, o desenvolvimento do longa, que acaba recorrendo a diálogos expositivos para preencher algumas das muitas lacunas da trama. Também não ajuda o fato de o texto de Terrio e Whedon não ser condizente com as próprias ideias que ele propõe: em certo momento, por exemplo, é mencionada a fragilidade do Batman perante aqueles super-humanos; porém, em outra cena, ele é visto salvando o Flash enquanto este estava correndo. Isso sem falar que o Aquaman quase não aparece dentro d’água e que o modo como o vilão consegue a última Caixa Materna é simplesmente ridícula, ainda mais quando comparada com a maneira como ele conseguiu duas anteriores.
Mas Liga da Justiça tem seus pontos positivos. É interessante a abordagem dada ao Batman, mostrando-o novamente como um ser muito mais emocional do que racional, que chega ao ponto de colocar a vida de todos em risco apenas para corrigir um erro seu. Da mesma maneira, a interação entre a equipe funciona bem – com exceção do Ciborgue (Ray Fisher), que fica sobrando – e as inserções de humor são bem-vindas, especialmente aquelas envolvendo o personagem Barry Allen, pois Ezra Miller o interpreta com um ar juvenil e inocente. E as sequências de ação são bem feitas, como aquele momento durante a corrida do Flash, em que mesmo a câmera lenta parece não conseguir alcança-lo; mas são pouco memoráveis. E isso é resultado da mudança de tom mencionada antes: com o afastamento do diretor Zack Snyder (O Homem de Aço) por motivos pessoais, Joss Whedon (Os Vingadores) ficou responsável por escrever algumas cenas e filmá-las.
Porém, esses são dois cineastas com estilos complemente distintos. Desta forma, em certos momentos vemos a câmera lenta característica de Snyder, e em outro as piadinhas no meio da ação, que são uma marca de Whedon. Soma-se a isso um flashback que parece ter saído de O Senhor dos Anéis e planos desnecessários da bunda de Gal Gadot, que vão de encontro à proposta anti-sexualizada da aventura-solo da Mulher-Maravilha. O que resulta de toda essa mistura é algo genérico, que não empolga, em parte porque o vilão nunca chega a representar uma verdadeira ameaça – ao menos não como foram o Loki na Marvel e o Coringa (o do Heath Ledger, é claro) na DC.
Quem acompanha as notícias de cinema está bem informado acerca dos problemas dentro da DC/Warner. Ora eles dizem que suas produções serão interligadas, ora serão independentes, alguns diretores desistem de projetos em andamento (como Ben Affleck, que não vai mais dirigir The Batman) e diversas longas anunciados ainda não saíram do papel. Desde O Homem de Aço a Warner tenta estabelecer esse Universo Cinematográfico da DC, e até então não conseguiu. Não que eles não saibam como, afinal Mulher-Maravilha é um filme de qualidade e com personalidade. Talvez eles devessem seguir mais por esse caminho, em vez de, como o sujeito na sala do cinema tão obviamente apontou, tentarem copiar o estúdio rival. Pois, Liga da Justiça não é ruim. Seu defeito é tentar ser raso e sem personalidade, como a maioria dos longas da Marvel.

FICHA TÉCNICA:
Título original: Justice League
Gênero: Aventura
País: EUA
Duração: 120 min.
Ano: 2017
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio e Joss Whedon
Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Henry Cavill, Jason Momoa, Ezra Miller, Ray Fisher, Joe Morton, Diane Lane, Amber Heard, Billy Crudup, Connie Nielsen, J.K. Simmons, Amy Adams, Jeremy Irons e Ciarán Hinds.