TESTE DE ELENCO

(idem – Brasil – 2009)
Direção: Ian SBF e Osiris Larkin
Roteiro: Ian SBF e Osiris Larkin
Elenco: Fábio Porchat, Talita Werneck, Pedro Henrique Monteiro, Letícia Lima, Camillo Borges, Patrícia Vazquez, Thiago Rotta, Rosa Soahres, Rodrigo Gallo, Camila Vaz, Kim Archetti, Maria Clara Horta, Vera Monteiro, Ana Felipe, Letícia Novaes, Igo Ribeiro, Paulo Mathias Jr, Mabel Cezar, Silvio Matos, Marcus Majella, Mayra Villela e Marina Tourinho

A subjetividade e a metalinguagem são temas recorrentes na história do cinema. A idéia do “filme dentro do filme” ou da imagem que desconstrói o universo fílmico, já foi abordada por grandes cineastas como Federico Fellini (8½), François Truffaut (Noite Americana) e Michael Haneke (Funny Games). Ainda que não possam (pelo menos por enquanto) ser comparados a esses cineastas, Ian SBF e Osiris Larkin fizeram um bom trabalho metalingüístico/subjetivo em Teste de Elenco.

Famoso desde sua campanha publicitária por ser o primeiro longa-metragem brasileiro a ser lançado exclusivamente na internet, Teste de Elenco teve o seu estréia oficial no dia 23 de março, no site da produtora Anões em Chamas. O filme conta a história de um diretor (Fábio Porchat) que, após um exaustivo dia testando atores para sua nova produção, chega à última candidata (Talita Werneck). O problema é que a atriz, além de não demonstrar talento algum, revela uma personalidade excêntrica e fará de tudo para conseguir o papel.

Aqueles que conhecem o trabalho de SBF, seja nos vídeos da Fondo Filmes ou no excelente curta-metragem Um Lobinho Nunca Mente (que inclusive serve como referência em certo momento, quando os atores fazem leitura do roteiro do curta) sabe que o senso de humor é sua característica mais marcante. Os diálogos, além de bem escritos, são antológicos: a história do jogo do Vasco é ótima.

Além disso, a maneira como o diretor – nesse caso os diretores, visto que Ian fez parceria na direção com seu usual montador – conduzem a ação, totalmente passada em um único ambiente, sem perder a atenção do público é impressionante. O mesmo pode-se dizer da coragem dos também roteiristas em estruturarem o seu longa em apenas dois atos, algo incomum para a maioria das comédias.

Quem já participou de um teste de elenco sabe da quantidade de diferentes candidatos – com características e personalidades distintas – que participam. Querendo ilustrar isso, o filme mostra uma única candidata (ou seja, um mesmo personagem) sendo interpretada por diversas atrizes diferentes. O que a principio pode causar estranhamento, acaba surgindo de forma orgânica na tela – ou no monitor do computador – graças à ótima montagem, também feita pelos diretores, que em nenhum momento perde o eixo e mantém o raccord das ações.

Ainda que a idéia de mostrar uma mesma pessoa sendo vivida por várias atrizes não seja exatamente original – Todd Solondz já fez isso em Palíndromos, só para citar um exemplo recente – tal escolha revela-se acertada e criativa. O problema é que (e, nesse caso, trata-se de uma opinião pessoal) os diretores não assumem toda a subjetividade sugerida em seu trabalho. A partir do momento em que você quebra essa barreira entre o filme e a platéia, não vejo necessidade de, após um plano que revela o microfonista ou quando uma personagem olha para a câmera, o personagem ter a necessidade de justificar: “Estamos filmando para, quem sabe, usarmos esse material no filme”. Me parece excessivamente explicativo, e desnecessário, que a câmera seja usada de forma diegética.

Outro exemplo desse “equívoco” narrativo é a seqüência em que a personagem de Talita Werneck tira uma arma da bolsa para ameaçar Fábio. Nesse momento, o câmera e o microfonista saem correndo e deixam o diretor sozinho com ela. Porém, como eles (o cameraman e o técnico de som) já haviam sido apresentados como as pessoas que estão filmando o teste de elenco, o que vemos nessa cena é uma reação natural de alguém que vê uma pessoa armada; e isso faz com que a cena perca um pouco do impacto. Não consigo deixar de pensar se não seria mais fiel à narrativa apresentada se o próprio equipamento, ou seja a câmera, fugisse da cena; algo similar ao que foi mostrado em O Libertino, com Johnny Depp, em que, quando John Wilmot alcança um estado tão avançado de sífilis, até a câmera se afasta dele, com repulsa.

Teste de Elenco demonstra uma ótima iniciativa por parte dos realizadores. Com editais cada vez mais apertados, e o grande custo na distribuição do audiovisual, lançar filmes gratuitamente na internet é tanto uma ótima estratégia de marketing, quanto uma boa (e semi-autruísta) ação. Teste de Elenco pode ser assistido na página da Anões em Chamas. Não deixem de conferir.

Nota: (Bom) por Daniel Medeiros