CRÍTICA: O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS

Filmes de espionagem vêm seguindo, de uns anos pra cá, certos padrões estabelecidos e bem sucedidos. Contando com ação desenfreada, heróis que sabem de tudo, gadgets cada vez mais interessantes e, mais recentemente, um toque de realismo e brutalidade; tal estilo mostrou-se funcional em séries como Missão: Impossível, Bourne e até 007. Ainda assim, é bonito ver um exemplo “a moda antiga” do gênero, que foge completamente desses padrões e entrega um produto muito bem realizado e de excelente resultado.
Baseado no livro de John le Carré, a trama, ambientada na década de 1970, mostra o serviço secreto britânico numa desastrosa tentativa de descobrir a identidade do agente duplo infiltrado pela Russia em sua organização. O resultado negativo dessa missão leva o agente Smiley (Gary Oldman), e seu chefe Control (John Hurt), a serem despedidos da MI6 e entrarem em uma aposentadoria forçada. Alguns meses depois, porém, Smiley é chamado para secretamente dar continuidade a essa missão, tentando decifrar os planos de Karla, misterioso chefe da KGB.
Fazendo aqui a sua estreia no comando de um longa em língua inglesa, o diretor Tomas Alfredson – do ótimo Deixe Ela Entrar – mantém mais uma vez a sutiliza mostrada em seu trabalho anterior. Sua construção de cena e a atenção dada aos detalhes fazem com que a narrativa não perca tempo explicando situações ou relações entre os personagens. Para Alfredson, um olhar ou um leve sorriso são suficientes. É interessante também notar as referencias do diretor, que em certo momento faz uma ótima homenagem ao clássico Janela Indiscreta de Hitchcock, acentuando assim a distancia entre aquelas pessoas.
Distância, inclusive, é algo comum em O Espião que Sabia Demais. Procurando cuidadosamente não se aproximar demais de seus personagens, o cineasta contrói um filme frio e calculista, onde todos são suspeitos e, de certa maneira, todos são culpados. Essa frieza é vista principalmente no protagonista: interpretado por um contido Gary Oldman, o “herói” é incapaz de demonstrar qualquer emoção durante quase toda a projeção – reparem como ele se segura para não explodir de raiva em certo momento, durante a festa de natal da firma. Outro momento memorável do ator é a belíssima cena em que ele encena como foi sua conversa com certo informante.
Escolhendo acertadamente também seu elenco secundário, Alfredson consegue nomes como Colin Firth, Tom Hardy, John Hurt, Toby Jones, Cirian Hinds e Mark Strong, e sabe aproveitar não só o talento de cada um como a fisionomia deles: com pessoas tão distintas entre si fica mais fácil para que o público imediatamente associe a sua figura e não se perca em meio a reviravoltas e traições. E o uso da montagem entrecortada (indo e vindo no tempo) auxilia para que cada um desses personagens seja melhor “investigado” pelo roteiro de Bridget O’Connor e Peter Straughan.

Ainda que provavelmente não agrade o grande público acostumado com os exemplos citados no primeiro parágrafo (já que não conta com cenas de ação ou tecnologia de última geração), O Espião que Sabia Demais dá uma nova cara ao tema de espionagem. Pesado, tenso, com ritmo lento e referências ao noir, o longa merece ser visto e revisto. Várias vezes.

(Tinker Tailor Soldier Spy – 2011 – Ingleterra, França e Alemanha)
Direção: Tomas Alfredson
Roteiro: Bridget O’Connor e Peter Straughan, baseado no livro de John le Carré.
Elenco: Gary Oldman, John Hurt, Colin Firth, Tom Hardy, Mark Strong, Toby Jones, David Dencik, Ciarán Hinds.

Nota:(Excelente) por Daniel Medeiros

O 7 Marte gostaria de agradecer a EspaçoZ, a PalavraCom, o Cinesystem e a PlayArte Pictures por organizarem a cabine de imprensa onde pudemos assistir a esse filme.