Crítica | Atividade Paranormal 4

Ao contrário do que muitos fizeram, e fazem até hoje, o primeiro Atividade Paranormal se utilizou não apenas do formato imortalizado por A Bruxa de Blair – conhecido como mockumentary –, como também (e principalmente) da sua estrutura. Aproximando a narrativa de seus personagens como forma de driblar o baixíssimo orçamento, o diretor Oren Peli entregou uma obra intimista e assustadora, onde o estilo utilizado funcionava igualmente como forma de desenvolver a história e aumentar o suspense. Veio o sucesso, e com isso a consequente transformação em franquia. O problema é que, nessa transição, Atividade Paranormal deixou de se arriscar e passou apenas a fazer apenas aquilo que se espera da série. Como é o caso desse novo capítulo.


Escrito por Christopher Landon (responsável pelos textos dos últimos três longas), o roteiro se passa 5 anos após os eventos mostrados no segundo filme (uma revisão se faz necessária, ainda que não seja obrigatória), quando a família da jovem Alex (Kathryn Newton) passa a conviver com Robbie (Brady Allen), um estranho garoto que mora do outro lado da rua, depois que a mãe deste vai parar no hospital por motivos misteriosos. A partir da chegada do menino, eventos inexplicáveis passam a acontecer na casa. É então que Alex, com ajuda de seu namorado (Matt Shively), instala câmeras por todos os lados numa tentativa de investigar o ocorrido.

Explicada a utilização de câmeras amadoras, é chegada então a hora do suspense. E é ai que reside o maior problema de toda a franquia Atividade Paranormal. Com exceção do primeiro filme, todos os capítulos da série são nada mais do que um amontoado de cenas desnecessárias que se utilizam do silêncio e do tempo ocioso como forma de criar tensão e, eventualmente, causar alguns sustos. Não se preocupando em sequer desenvolver os personagens, algo necessário para fazer o público criar simpatia com aquelas pessoas e assim aumentar a tensão quando as vemos em perigo, Landon se mantém aqui em sua zona de conforto, sem ousar em absolutamente nada. Além disso, o roteirista toma decisões um tanto preguiçosas e não funcionais, como utilizar a subtrama envolvendo a crise no casamento dos pais de Alex apenas como desculpa para que eles não discutam um com o outro os eventos estranhos que estão presenciando – como se isso justificasse mostrar alguém ignorando o fato de que uma faca caiu do ar, sem mais nem menos, bem na sua frente.

E por mais que os diretores Henry Joost e Ariel Schulman (responsáveis por Atividade Paranormal 3 e pelo excepcional Catfish) façam o possível para inserirem um pouco de criatividade visual (como as cenas envolvendo nightshot e os sensores do kinect, de longe os melhores momentos do longa), suas tentativas acabam se frustrando devido ao material irregular em que se baseiam: narrativamente falando, sequencias como a garota sendo levitada ou Robbie assistindo o jogo de futebol em certo momento e misteriosamente sumindo no momento seguinte, por mais que sejam visualmente interessantes, não têm função alguma. As cenas realmente importantes para o desenvolvimento da história (assim como em todos os textos de Landon) são inseridas em dois momentos: uma perdida no meio do filme e outra no final, que, como sempre, é interrompida bruscamente. Tal estrutura pode até ter funcionado financeiramente – os números estão aí pra comprovar isso –, mas não deixa de ser uma forma de enganar o espectador, como uma promessa que nunca se concretiza.

Com outra continuação já agendada para o próximo ano a franquia Atividade Paranormal, caso mantenha essa linha, corre o risco de se tornar o novo Jogos Mortais: uma boa ideia que, além de nunca repetir o sucesso inicial, se alonga mais do que devia e acaba caindo no esquecimento.

(Paranormal Activity 4 – Suspense – EUA – 2012)
Direção: Henry Joost e Ariel Schulman
Roteiro: Christopher Landon
Elenco: Kathryn Newton, Matt Shively, Brady Allen, Sprague Grayden, Stephen Dunham, Alexondra Lee, Aiden Lovekamp, Katie Featherston.


Nota: (Regular) por Daniel Medeiros