Crítica | As Palavras

Partindo da mesma premissa do fraco “O Advogado dos 5 Crimes” (A Murder of Crows, 1998), As Palavras, longa de estréia de Brian Klugman e Lee Sternthal, também mostra um escritor publicando um livro que não é seu e as consequências (nesse caso psicológicas) desse ato. Infelizmente, assim como aconteceu no primeiro filme, a (boa) ideia inicial acaba sendo desperdiçada por uma condução capenga, que entrega um resultado apenas mediano.

Iniciando a projeção com a imagem de um livro, que surge antes que o rosto do protagonista seja revelado – o que faz uma conexão interessante com o que viria a seguir – a trama mostra Clay Hammond (Quaid), um escritor bem sucedido que inicia a leitura de seu novo trabalho, intitulado As Palavras. A obra conta a história de Rory Jansen (Cooper) um escritor fracassado que certo dia encontra um manuscrito e o publica como sendo seu. O sucesso e a fama são quase instantâneos, o que abre diversas portas para o jovem, porém isso acaba o tornando extremamente infeliz, pois ele sabe que aquele sucesso não o pertence.

Estruturando o seu roteiro em flashbacks, Klugman e Sternthal abrem um leque de possibilidades para diversas interpretações. Afinal, como se trata de uma história sendo contada (ficção ou não), o contador pode ter fantasiado um pouco os fatos a seu favor, como ao dizer que a publicação foi um sucesso unânime de crítica e público – algo quase impossível de acontecer. Da mesma maneira, em uma história fantasiosa é crível que um texto tenha ficado dentro de uma maleta por quase 6 décadas sem que ninguém o tenha visto antes. E mais ainda, que tal texto seja encontrado justamente por outro escritor que coincidentemente tem contatos em uma editora.

Se aprofundando mais nas teorias, é possível dizer que, como fica entendido logo de início (pelo menos para mim) que os personagens de Dennis QuaidBradley Cooper são a mesma pessoa, a história do livro As Palavras é na verdade uma maneira do personagem finalmente contar a verdade ao mundo sobre o seu sucesso – mantendo ainda a covardia inerente à sua personalidade, visto que utiliza nomes diferentes. Mais profundamente ainda (e partindo para outro caminho), é possível também dizer que toda a história do “roubo” do manuscrito pode ser só uma desculpa para justificar o fato de ele, Hammond, nunca conseguiu repetir o sucesso inicial – algo que ocorre com bastante frequência  e resolve então colocar “a culpa” em outra pessoa.

Além disso, pode-se dizer também que trata-se apenas de uma obra de ficção que nada tem a ver com a vida do autor. Todas essas interpretações são válidas, já que os roteiristas escolhem não abordar profundamente nenhum desses temas, apenas mencionando-os e deixando o público fazer todo o resto do trabalho – o que não deixa de ser uma decisão preguiçosa.

Isso sem falar que a inexperiência dos dois acaba prejudicando a narrativa em diversos momentos, ao tornar confusas as passagens de tempo: quando velho conversa com o homem no parque, fica a impressão de que o livro já foi publicado a muito tempo, mas em seguida, quando ele conversa com seu editor, parece que a publicação foi recente. E quando Rory sai de casa para ir ao parque, ele sai de um prédio chique (inclusive conversa com o porteiro explicando que naquele dia irá pegar um ônibus), mas quando resolve voltar para casa, ele volta para o loft onde morava com a esposa antes da fama, o que não faz sentido algum.

E mais, dizer que ninguém conhece John Fante ou seu trabalho mais famoso, “Pergunte ao Pó”, seria um exagero vindo de um filme qualquer. Mas em um longa que faz questão de idolatrar grandes obras e grandes autores, isso soa quase como uma heresia. Parece que faltou cuidado dos roteiristas na escolha das suas palavras.

Direção: Brian Klugman, Lee Sternthal
Roteiro: Brian Klugman, Lee Sternthal
Elenco: Bradley Cooper, Dennis Quaid, Olivia Wilde, Zoe Saldana, Jeremy Irons, J. K. Simmons, Ben Barnes, John Hannah, Zeljko Ivanek



Nota: (Regular) por Daniel Medeiros