A censura como publicidade



Maniac tem sua exibição banida na Nova Zelândia.

O Hollywood Reporter informou, na última qurta-feira (24/7), que o filme de terror gore Maniac, estrelado por Elijah Wood (O Senhor dos Aneis), foi banido do circuito comercial na Nova Zelândia. Os motivos apontados para esse ato é que o filme é narrado quase inteiramente sob o ponto do vista do protagonista (um sádico assassino serial), o que parece não ter agradado muito os órgãos de censura neozelandenses.

Essa prática de censura (apesar de errada, na minha opinião) não é muito incomum. A alguns anos o país já havia banido outro filme, o documentário The Bridge, sobre uma ponte onde as pessoas vão para se matar. Mas ainda que a prática já tenha acontecido antes, é a maneira como foi feita que me incomoda. A justificativa dada na ocasião foi que esse filme, se fosse visto pelas pessoas erradas, poderia acarretar comportamento violento.

No primeiro filme da franquia Pânico, o assassino interpretado por Skeet Ulrich afirma que “filmes não criam assassinos. Só deixam eles mais criativos”. Sua opinião é partilhada por Stephen King, que afirma algo similar no livro de não-ficção Dança Macabra. Ainda assim, não vou me ater muito a essa discussão, exatamente porque não acho que essa seja a verdadeira questão aqui.

O mais interessante (e assustador, de certa maneira) nesse caso é o conceito que se tem de “pessoas certas” e, principalmente, “pessoas erradas”. Segundo Ant Timpson, responsável pelo programa do festival de cinema do país, as pessoas certas seriam aquelas que frequentam festivais, enquanto as pessoas erradas são aqueles que, consequentemente, veriam o filme nos cinemas.

Além de julgar certa superioridade intelectual àqueles que frequentam festivais, ele afirma, de maneira até preconceituosa, que parte do restante da população não seria capaz de distinguir realidade de ficção, e realmente acha que o público do cinema sairia as ruas matando pessoas do mesmo jeito que Elijah Wood faz, só porque o filme é mostrado do ponto de vista dele. Vale lembrar que Maniac não é primeiro filme gore a ser produzido e nem o primeiro filme a usar o ponto de vista como estratégia narrativa. Inclusive, alguns dos melhores games da atualidade também se utilizam disso.

Mas isso, na verdade, levanta outra questão que considero mais interessante ainda. Se a preocupação principal de Timpson era que o filme não fosse muito visto, sua abordagem equivocada acaba servindo como uma jogada publicitária. Não é improvável supor que o filme teria certo público nos cinemas, mas outra suposição que é bastante válida nesse momento é julgar que, por causa da proibição, grande parte do público vai buscar outros meios (ilegais) de assistir ao filme.

Caso similar aconteceu aqui no Brasil em 2011, quando o horroroso A Serbian Film foi proibido e gerou uma comoção nacional. Curiosamente, o filme já havia sido exibido no Fantaspoa daquele ano e passado praticamente despercebido. Naquele caso, a censura deu então vida nova e notoriedade a um filme que não merecia tanto, o que, aparentemente, será o futuro de Maniac. E Timpson deveria temer essa reação, já que as chances das tais “pessoas erradas” assistirem ao filme cresceram bastante.