Crítica | Invocação do Mal

Desde a sua estreia no comando de um longa-metragem, com o tenso Jogos Mortais, o cineasta James Wan fez filmes que homenageiam e até copiam os clássicos de terror das décadas de 1970 e 1980. Em Invocação do Mal (The Conjuring), seu mais recente trabalho, Wan faz não apenas uma homenagem ao gênero de terror dessa época, mas um típico terror setentista da melhor qualidade.

Passada em 1971, a trama acompanha uma família que acaba de se mudar para uma casa isolada e começa a presenciar estranhos acontecimentos (barulhos, vultos, hematomas pelo corpo, etc). Quando a situação foge do controle, eles recorrem à ajuda do casal Ed e Lorraine Warren, famosos “caça-fantasmas” que também estão enfrentando uma situação delicada em relação ao sobrenatural.

A sinopse se assemelha bastante ao assustador Sobrenatural, longa anterior do cineasta, mas existem aqui duas diferenças básicas. A primeira é o fato de se tratar de uma trama baseada em fatos, o que faz com que a história seja desenvolvida de maneira crível e calcada na realidade.

Nesse sentido, a composição do casal Warren por Patrick Wilson (Watchmen) e Vera Farmiga (Bates Motel) é fundamental. Apesar da extensa “carreira”, os dois são céticos o suficiente para apontar que a grande maioria dos casos sobrenaturais normalmente tem uma explicação lógica. Além disso, mesmo com toda a sua experiência, o casal se assusta quando enfrenta forças malévolas, o que demonstra que, apesar de tudo, eles são apenas humanos.

A segunda diferença reside na troca de roteiristas. Leigh Whannell, parceiro habitual de Wan, foi substituído pela dupla Chad Hayes e Carey Hayes (Terror na Antártida), e é possível notar o estilo distinto de escrita dos dois. Enquanto Whannell investia em uma situação assustadora seguida da outra, construindo tensão no fato de não deixar o espectador respirar aliviado, os irmãos Hayes preferem conceber uma atmosfera de crescente suspense, que culmina em um clímax grandioso. São estilos diferentes e igualmente bem sucedidos.

E James Wan também se sai bem nessa transição. Usando alguns clichês conhecidos do gênero, como crianças falando sozinhas, porões sujos cheios de móveis cobertos com lençóis, e portas rangendo, o diretor cria uma atmosfera que por mais que não seja original, ainda assim é surpreendente. Você sempre sabe que vai vir um susto em seguida, mas nunca sabe de onde. Isso se deve à primorosa maneira com que o cineasta utiliza o elemento do “fora de quadro” (ou seja, aquilo que não aparece na tela): você ouve muito mais do que vê, e isso funciona perfeitamente bem na concepção do suspense.

E é triste saber que esse talvez seja um dos últimos trabalhos de Wan com o gênero de terror. Atualmente dirigindo o 7º capítulo da franquia Velozes & Furiosos, o cineasta declarou que ele agora pretende seguir outros caminhos. Ao assistir a Invocação do Mal posso afirmar com certeza que o cinema de terror contemporâneo tem muito a perder com essa decisão. Tomara que ele mude de ideia.

Obs: Pra quem não sabe, um dos casos investigados pelo casal Warren foi a casa mal-assombrada de Amityville, que deu origem a uma série de filmes e um remake, esse último protagonizado por Ryan Reynolds. É esse o tal “caso em Long Island” que é mencionado em certo momento.

(The Conjuring – Terror – EUA – 2013 – 112 min.)
Direção: James Wan
Roteiro: Chad Hayes e Carey Hayes
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Lili Taylor, Ron Livingston, Shanley Caswell, Hayley McFarland, Joey King, Mackenzie Foy

Assista ao trailer de Invocação do Mal aqui.