Crítica | Família do Bagulho

Apesar da péssima tradução em português, Família do Bagulho é um ótimo exemplo de comédia despretensiosa e divertida, que apesar de não trazer absolutamente nada de novo, e ainda cair em alguns dos clichês mais batidos, consegue entreter o público, em especial por causa da boa química do elenco.

Escrito a oito mãos por Bob Fisher, Steve Faber (ambos de Penetras Bons de Bico), Sean Anders e John Morris (esses dois responsáveis por Os Pinguins do Papai), o roteiro apresenta uma aura politicamente incorreta envolta em um conteúdo um tanto conservador, ao mostrar a história de um traficante que forja uma família (formada por uma stripper, uma garota rebelde e um rapaz isolado) para tentar passar despercebido na fronteira México/EUA, trazendo um enorme carregamento de maconha.

Ao contrário de outros filmes com temas similares (como os estrelados por Cheech e Chong ou Harrold e Kumar), os personagens de Família do Bagulho transportam a droga, mas não a consomem – afinal isso seria errado demais.  O problema é que essa temática pudica envolta em uma estrutura liberal acaba quase que “obrigando” o roteiro a inserir uma subtrama romântica e um final semi-moralista, elementos que se mostram deslocados do restante da narrativa. Mas esses problemas são pequenos comparados às risadas que o filme causa.

Hábil ao construir uma narrativa fluída, que em nenhum momento soa esquemática (o que é o grande problema das comédias atuais), o cineasta Rawson Marshall Thurber (o mesmo do divertido Com a Bola Toda) acerta ao investir num humor mais pesado, que faz graça por meio do exagero. Piadas como a cena do beijo ou o bebê de maconha (isso mesmo) só funcionam graças ao timming cômico específico do diretor.

Porém, o grande destaque do filme fica mesmo para o seu elenco afiado. Enquanto Jennifer Aniston sai do seu lugar comum de donzela em comédias românticas para viver uma stripper falastrona, Jason Sudeikis aparece hilário como o patriarca da família. E se Emma Roberts não tem muito espaço para desenvolver sua personagem (o roteiro opta por não explorar o seu passado), o jovem Will Poulter acaba roubando a cena. O garoto é responsável por alguns dos melhores momentos do filme ao interpretar o inocente Kenny, alguém que parece não se importar em se submeter a uma situação como aquela apenas pela ilusão de ter uma família (por mais bizarra e problemática que ela seja).

Divertido e previsível, Família do Bagulho não eleva as expectativas, mas cumpre tudo o que promete. O que mais poderia se esperar de um filme com esse nome?

(We’re The Millers – Comédia – EUA – 2013 – 110 min.)
Direção: Rawson Marshall Thurber
Roteiro: Bob Fisher, Steve Faber, Sean Anders e John Morris
Elenco: Jason Sudeikis, Jennifer Aniston, Emma Roberts,Will Poulter, Ed Helms, Nick Offerman, Kathryn Hahn.