Crítica | Ajuste de Contas

O que fazer quando se tem uma história que é descaradamente uma cópia de outra? Afirme que se trata de uma “homenagem”, aí toda a sua falta de criatividade será vista como um tributo nostálgico. Ainda que eu não possa afirmar que foi isso o que passou pela cabeça dos realizadores de Ajuste de Contas, posso dizer, com certeza, que é essa a impressão que o filme passa – o que não impede que o resultado seja algo até divertido de se ver.

Copiando descaradamente a trama de Rocky Balboa (2006), em que o Garanhão Italiano volta aos ringues depois que um programa de computador afirma que ele venceria uma luta contra o atual campeão mundial, aqui o roteiro dos pouco conhecidos Tim Kelleher e Rodney Rothman mostra dois lutadores aposentados, Henry ‘Razor’ Sharp (Sylvester Stallone) e Billy ‘The Kid’ McDonnen (Robert De Niro), que são convencidos a voltar para o ringue depois que vaza na internet um vídeo dos dois brigando durante o processo de captura de movimentos para um novo game de boxe. Enxergando ali uma oportunidade de ouro, o empresário Dante Slate Jr. (Kevin Hart) convence os dois a participarem de uma última luta, que resolverá de uma vez uma rivalidade que já dura 30 anos.

Aproveitando-se do fato de trazer duas lendas do cinema de boxe se enfrentando nas telas, Ajuste de Contas abusa das referências, tanto de Touro Indomável (1980) quanto da franquia Rocky – a cena no açougue é uma das melhores do filme. Porém, a grande sacada do texto de Kelleher e Rothman é o fato de que aqui (ao contrário de em Rocky Balboa) ninguém quer ver essa luta, o que cria a necessidade dos personagens promoverem o embate. Isso dá ao diretor Peter Segal (Agente 86) a oportunidade de explorar o que ele tem de melhor: os seus atores. A química entre Stallone e De Niro rende boas risadas, em especial na sequência da arena de MMA.

Mas se o longa funciona bem no humor, o mesmo não pode ser dito da sua carga dramática. Não sendo nenhum Martin Scorsese, ou John G. Avildsen (ou até um Sylvester Stallone), Segal não consegue equilibrar bem as piadas com os momentos que eram pra ser mais comoventes. Isso até não seria um problema, caso a dupla de roteiristas não procurasse investir tanto nos dramas pessoais dos protagonistas (Razor com a antiga namorada e Kid com seu filho, que até então ele não conhecia), o que acaba provocando um atrito entre a proposta agridoce do texto e a visão puramente cômica do cineasta. Também não ajuda o fato do roteiro ser tão esquemático que todas as suas “viradas” podem ser previstas com bastante antecedência – quando é inserida uma nova informação sobre os embates anteriores dos dois boxeadores, até o resultado dessa nova luta se torna previsível.

Mesmo não trazendo absolutamente nada de original, Ajuste de Contas diverte pela curiosidade de mostrar dois gigantes do cinema se enfrentando. E finalmente responde a pergunta: quem venceria numa luta, Jake La Motta ou Rocky Balboa? Assista, e descubra.

P.S: Existe uma a cena durante os créditos que é, sem dúvida, a melhor do filme.

(Grudge Match | Comédia | 2013 | 113 min.)
Direção: Peter Segal
Roteiro: Tim Kelleher e Rodney Rothman
Elenco: Sylvester Stallone, Robert De Niro, Kim Basinger, Kevin Hart, Alan Arkin, Jon Bernthal, LL Cool J.