Crítica | Sem Escalas

Sem Escalas marca a segunda reunião do cineasta espanhol Jaume Collet-Serra com o astro de ação britânico Liam Neeson, depois do pavoroso Desconhecido (2011), e apesar desse novo trabalho também apresentar graves problemas de roteiro, o filme ao menos consegue divertir o espectador em meio aos absurdos da sua trama, algo que, ao fim, já é um resultado positivo.

Escrito por John W. Richardson, Christopher Roach e Ryan Engle, o roteiro coloca Neeson no papel de um agente federal aéreo que embarca disfarçado de civil nos voos com o objetivo de prevenir qualquer ameaça à segurança americana. Certo dia, durante um voo comercial, ele recebe uma mensagem de um terrorista dizendo que irá matar uma pessoa de dentro do avião a cada 20 minutos até receber 150 milhões de dólares. Começa então uma corrida contra o relógio a 7 quilômetros acima do oceano.

Tentando inserir um pouco de “conteúdo” ao protagonista, o texto faz questão de retratá-lo como um alcoólatra que sofre de um trauma do passado, sem que isso de fato tenha alguma importância no decorrer da história. Ainda assim, é visível a tentativa de Neeson de utilizar essas informações para compor o seu personagem como alguém que traz esse cansaço no olhar. Além disso, o longa também opta por abordar (tangencialmente) alguns questionamentos comuns à mentalidade americana e ao pavor aéreo pós 11 de setembro – como na cena em que Neeson vasculha as malas dos passageiros e alguém pergunta se ele realmente não encontrou nada suspeito na bagagem de um médico de origem árabe.

Mas se é até louvável a tentativa dos roteiristas de darem tridimensionalidade ao herói, o mesmo não pode ser dito da personagem de Julianne Moore (a única coadjuvante com algum desenvolvimento), já que a explicação para as suas motivações não soa nada plausível. E por mais que conte com a (perdoável) necessidade de suspensão de descrença para sua total funcionalidade – como os tais assassinatos a cada 20 minutos, acertados de maneira precisa, até quando são executados pelas mãos de terceiros –, o maior problema do filme (e aquele que realmente compromete o seu resultado) reside na resolução da sua trama, quando o suspense é deixado de lado e as motivações do vilão são apresentadas; motivações essas que além de não convencerem, soam absurdas e exageradas demais.

Mesmo com todos os defeitos, Collet-Serra consegue manter a tensão o tempo todo (em parte pelo uso constante de câmera na mão), utilizando a limitação do cenário para criar um sentimento de claustrofobia (tudo acontece praticamente num único ambiente). E por mais que não seja nenhum exímio exemplar do cinema de ação, Sem Escalas diverte e entretém o seu público, algo que, vindo da mesma dupla que fez Desconhecido, já é uma evolução.

(Non-Stop | EUA | Thriller | 2014 | 106 min.)
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: John W. Richardson, Chris Roach, Ryan Engle
Elenco: Liam Neeson, Julianne Moore, Scoot McNairy, Michelle Dockery, Nate Parker, Corey Stoll, Lupita Nyong’o, Jason Butler Harner, Omar Metwally, Quinn McColgan, Frank Deal, Anson Mount.