Terror | Revisitando O Exorcista

Tenho uma história estranha com O Exorcista. Sempre gostei de cinema, especialmente do gênero de terror, porém não tive uma primeira experiência muito boa com o clássico de William Friedkin. Cresci ouvindo histórias sinistras sobre o filme, e (confesso) por muito tempo tive medo de assisti-lo. Porém, fui ficando mais velho e finalmente venci o meu medo pré-concebido.

Não lembro exatamente a idade que tinha, mas lembro que a primeira vez que assisti ao filme foi na época do auge dos filmes de “terror adolescente” – derivados de Pânico – que eu tanto adorava. Consequentemente, a visão que eu tinha do terror nessa época era a de que, para ser assustador, um filme precisa pregar sustos o tempo todo – um artifício que pertence quase que exclusivamente a filmes ruins.

Mas assistindo ao filme em casa, possivelmente em VHS (sim, sou velho), não levei nenhum susto, e na minha mentalidade juvenil, isso significava que o longa tinha falhado como terror. Minha percepção mudou um pouco quando tive a oportunidade de revê-lo no cinema, num relançamento de uma versão remasterizada (acho que em 2000). Minha mentalidade não tinha mudado tanto assim na época, mas num cinema lotado e barulhento, o filme me pregou alguns bons sustos, e com isso passei a admirá-lo um pouco mais.

Foi somente numa outra revisão, essa mais recente, talvez na época da faculdade de cinema, que pude perceber boa parte da genialidade de Friedkin na condução daquela incrível história. Com isso, passei a admirar O Exorcista ainda mais, e da maneira que ele deve ser admirado.

O que nos leva ao último final de semana, quando resolvi, num domingo a noite, rever o filme mais uma vez. Tirei o DVD da prateleira e pude assisti-lo com um som 5.1, o que fez toda a diferença. Os ruídos no sótão da casa de Chris MacNeil (Ellen Burstyn) ficaram ainda mais claros, e mais próximos de mim, e me senti envolvido na ambientação sombria do filme. Envolvido e assustado.

Me assustei novamente, mesmo já tendo visto-o tantas vezes, porque pude contemplar e me envolver com a maneira como àquela história é contata. Sim, esse não é um filme de sustos fáceis, e ao contrário do que eu pensava antes, essa é a sua maior qualidade. A beleza do trabalho de Friedkin reside na maneira como ele mantém (e manipula) a tensão do espectador. Me envolvi com os personagens e com a situação, e senti medo por eles e com eles.

Esse envolvimento é o principal causador do medo – e um dos motivos de o filme ser tão cultuado. É uma estratégia relativamente simples, mas pouco usada. Você (o público) só vai se importar com aqueles personagens se conhecê-los, se conviver com eles, se rir com eles. E Friedkin faz isso de maneira admirável. Passa-se mais de uma hora antes que a angelical Regan (Linda Blair) demonstre todo o “poder” da sua possessão. Tudo o que vem antes é sugestão e tensão… muita tensão. E o que vem depois, por mais gore que seja, é condizente com àquela narrativa.

Fui mais uma vez surpreendido pelo filme, e a surpresa foi igualmente agradável e assustadora. Um grande filme é aquele que melhora a cada revisão e que nunca deixa de te surpreender. E O Exorcista se encaixa nessa categoria. Mal posso esperar para descobrir mais coisas sobre ele numa próxima revisão – de preferência em Blu-Ray.