Crítica | Poltergeist – O Fenômeno

Normalmente sou contrário à ideia de comparar um filme com outro, pois acredito que cada obra deve se sustentar por si própria, sem o peso de uma comparação. Nos casos de remakes de longas consagrados, porém, isso se torna um pouco mais difícil, uma vez que as comparações com o original são quase inevitáveis. E é uma agradável surpresa que Poltergeist – O Fenômeno, remake do filme homônimo de 1982 dirigido por Tobe Hooper, se saia bem nesse quesito, ainda que, como esperado, não supere a qualidade do clássico que lhe deu origem.

Escrito por David Lindsay-Abaire (Oz: Mágico e Poderoso), o roteiro acompanha uma família de classe média que se muda para uma nova casa para que o marido (Sam Rockwell, de Homem de Ferro 2) possa se recuperar depois de ter sido despedido do seu último emprego. Porém, aos poucos as crianças da família começam a perceber estranhos eventos sobrenaturais que ocorrem naquele lugar, em especial ao redor da pequena Madison (Kennedi Clements, de Um Herói de Brinquedo 2). E quando a jovem é “sequestrada” por fantasmas, a família recorre a uma equipe de médiuns para recuperá-la.

Pela sinopse acima, é possível notar algumas diferenças em relação ao original. Em primeiro lugar, o desemprego do pai assume um papel dramático importante, ao contrário da estabilidade financeira que ele tinha no anterior. A segunda alteração está na percepção dos fantasmas, que agora são “sentidos” apenas pelas crianças, ao contrário do caso anterior, em que eram vistos por toda a família, causando até algum divertimento. São alterações pequenas, mas que condizem com a realidade contemporânea, substituindo a ideia de “american way of life” que o anterior tentava estabelecer por um conceito de incomunicabilidade, condizente com a sociedade contemporânea, em que cada pessoa aparece perdida em frente aos aparelhos celulares, as pessoas param de conversar, e a TV deixou de ser o centro da sala.

Outras mudanças também são frutos dessa época, como a maconha que é substituída pela bebida (uma solução recatada, como o cinema atual), e a médium Tangina, interpretada pela inconfundível Zelda Rubinstein, substituída aqui por um canastrão Jared Harris (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), que surge aqui como o protagonista de um reality show de caças-fantasmas (outro tema bastante atual). Porém, se essas alterações são bem-vindas dentro da nova realidade em que o filme está inserido, outras, de cunho narrativo, não fazem tanto sentido. O segredo envolvendo um cemitério, por exemplo, algo que extrema importância, aqui é jogado de forma gratuita, perdendo todo o impacto que tal informação deveria ter. Da mesma maneira, é questionável a decisão de mostrar o “mundo dos mortos” (numa sequência inspirada em Sobrenatural), por perder toda o suspense gerado pela omissão de tais imagens.

Procurando manter-se longe do estilo de Hooper, o cineasta Gil Kenan (A Casa Monstro) opta por um estilo mais sombrio e um clima de suspense crescente, que difere da temática “leve” original – a cena do sequestro de Madison e o palhaço de brinquedo sinistro são prova disso. Também é louvável a forma como ele cria uma lógica visual para a presença sobrenatural, representada através luzes da casa, que se acendem sucessivamente. O diretor peca apenas ao prejudicar o ritmo da sua narrativa pela inserção de diversos finais falsos. Mas até lá o público já está entretido com o fato de esse ser um remake muito melhor do que a maioria das produções baseadas em clássicos dos anos 1980.

(Poltergeist | Terror | EUA | 2015 | 93 min.)
Direção: Gil Kenan
Roteiro: David Lindsay-Abaire
Elenco: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt, Kennedi Clements, Saxon Sharbino, Kyle Catlett, Jared Harris, Jane Adams, Susan Heyward, Nicholas Braun.

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