Crítica | A Nona Vida de Louis Drax

Seguindo a linha de títulos como o incrível O Labirinto do Fauno e o irregular Sucker Punch – Mundo Surreal, este recente A Nona Vida de Louis Drax aborda novamente a temática das diferentes facetas assumidas pelo trauma. E por mais que não seja nada inovador, a mistura de gêneros (suspense, fantasia, etc) proposta pelo filme consegue manter a atenção do espectador ao longo das reviravoltas da trama, sem nunca fazer destas o centro da sua narrativa.
Escrito pelo ator Max Minghella (A Rede Social) com base no livro de Liz Jensen, o roteiro é estruturado em flashbacks e acompanha a história de Louis Drax (Aiden Longworth, incrível), um garoto “propenso a acidentes” que está em coma depois de ter caído de um penhasco. Enquanto a polícia procura pelo pai (Aaron Paul) do menino, suspeito de ter causado o “acidente”, sua mãe (Sarah Gadon) fica ao seu lado no hospital, esperando que ele apresente algum sinal de recuperação. Lá, ela acaba se aproximando do Dr. Pascal (Jamie Dornan), médico encarregado do tratamento e dono de algumas teorias controversas a respeito de pacientes em coma.
O Dr. Pascal acredita que pacientes na condição de Louis Drax vivenciam tudo o que acontece ao seu redor, e precisam de um incentivo para saírem dessa situação. Essa teoria é corroborada pela narrativa do filme, que coloca o garoto dividindo uma realidade alternativa, ou um limbo, com um bizarro monstro marinho. As semelhanças com o já mencionado O Labirinto do Fauno são gritantes, mas a grande sacada de Minghella é entender a previsibilidade da trama.
O roteirista aborda cada nova informação como um adendo e não como peças de um quebra-cabeças intricado – como é o caso da própria identidade do monstro, revelada sem grande alarde. Não se trata, portanto, de um mistério a ser revelado, mas sim de entender os motivos que levaram aquilo a acontecer. Igualmente acertada é a concepção visual do diretor Alexandre Aja, que investe num clima onírico, cheio de nuvens e fumaça (quase como se o mundo real e o mundo dos sonhos fossem iguais), e numa ambientação sombria em determinados momentos – vale lembrar que o cineasta tem experiência com terror, algo visível nas cenas nas quais o monstro aparece.
Mas o mesmo não pode ser dito dos momentos dramáticos. Aja pesa a mão demais no melodrama, tornando difícil que se acredite nas relações daqueles personagens – sim, a relação do garoto com o pai funciona, mas é a única. Além disso, é preciso comprar essa crença do Dr. Pascal a respeito dos pacientes em coma, uma vez que o filme força bastante essa ideia. Em determinado instante há até uma espécie transferência de pensamento, que pode soar tanto crível quanto ridículo – pessoalmente, acabei ficando num meio termo.
Sem qualidade narrativa da obra de Guillermo del Toro ou os exageros visuais de Sucker Punch, A Nona Vida de Louis Drax consegue encontrar o seu espaço com uma abordagem um pouco diferenciada, que disfarça o fato de que se está novamente falando sobre o mesmo assunto.

Título original: The 9th Life of Louis Drax

Ano: 2016
Duração: 108 min.
Gênero: Fantasia/Drama
Direção: Alexandre Aja
Roteiro: Max Minghella, baseado no livro de Liz Jensen
Elenco: Jamie Dornan, Aiden Longworth, Sarah Gadon, Aaron Paul, Molly Parker, Terry Chen, Oliver Platt.