AS HIPER MULHERES

(idem – 2011 – Brasil)
Direção: Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro
Roteiro: Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro
Elenco: Tugupé, Sandaki, Kamankgagu, Kanu, Ajahi, Aulá, Amanhatsi.
Sempre tive um problema com documentários que tentavam passar uma falsa idéia de realidade. Sendo assim, toda vez que assistia a um filme do gênero, passei a procurar os momentos em que o diretor tentou manipular a “verdade”, se é que existe uma. Em alguns casos isso acontecia pouco, ou nem acontecia (não que eu percebesse, pelo menos) e em outros, era quase o tempo todo (qualquer um de Michael Moore). Em As Hiper Mulheres, longa que acompanha o ritual de preparação de uma festa Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), isso se fez presente em boa parte da projeção, ainda que não possa ser visto exatamente como um defeito.
Logo no início, quando um velho índio fala (dentro de sua oca) que vai falar com outra pessoa, sai na rua (já sendo filmado por outra câmera) e entra na casa do amigo (com outra câmera já aguardando), percebi que esse poderia ser mais um desses casos que tanto desgosto. Em seguida, a idéia de falsa realidade foi confirmada na cena em que um índio que, inicialmente em silêncio começa a cantar cada vez mais alto quando a câmera se aproxima.
Ficou claro então que a intenção dos diretores Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro era mesmo criar algo “ensaiado” e falseado em formato de documentário (o que explica as indicações que alguns índios tiveram para os prêmios de melhor ator e atriz no Festival de Gramado). Curiosamente, os cineastas não saíram tão prejudicados com a escolha desse formato (pelo menos, não tanto quanto eu esperava), pois, já que estão filmando os ensaios e preparativos de um ritual que é ensaiado à exaustão, naturalidade e espontaneidade não fazem parte do objetivo deles. Ainda assim, o trio equivoca-se ao focar-se mais no ensaio do que na festa em si, que, por mais que seja uma bela cerimônia, ninguém agüenta mais ver as mesmas danças que assistimos nos últimos (e cansativos) oitenta minutos.
Por mais que essa seja uma escolha narrativa e estética dos realizadores, não consigo deixar de pensar que o filme ganharia muito mais conteúdo se mantivesse a estrutura “clássica” dos documentários, já que os melhores momentos do longa são justamente aqueles em que são feitas entrevistas com os indígenas. Acredito que mais tempo de entrevistas e depoimentos tornariam a experiência muito mais interessante. É um belo trabalho, feito para quem conhece a tradição. Porém, para os leigos (me incluo nessa lista) o resultado parece ser raso.


Nota:(Regular) por Daniel Medeiros


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